O café da manhã foi tão saboroso quanto o da manhã anterior – talvez até mais – e eu começava a me apegar aquela casa como se fosse minha, mesmo estando há tão pouco tempo nela.
– Beatriz? – Linfa – Venha, preparei outro vestido para você!
Linfa e eu havíamos nos tornado mais amigas do que imaginávamos. Na noite anterior nós continuamos contando sobre a minha vida e ela parecia realmente interessada. Tentei fazer com que ela falasse um pouco dela também – era muito chato ser a única atenção da conversa – mas ela não entrou em muitos detalhes.
Linfa havia me contado que era costureira e já havia feito roupas para a família real – assim que ela conheceu Neandro -, mas nos últimos anos ela vem tendo poucas clientes, o que me fez ficar envergonhada de aceitar os vestidos que ela havia feito para vender.
Essa não era a segunda peça de roupa que ela me dava. Além do vestido do dia anterior, Linfa havia me dado também duas roupas para dormir. As duas eram muito bonitas e confortáveis. Uma era leve, bem solta, larga de cor rosa claro para os dias quentes. Ela havia um belo corte e era muito fresca. Já a outra eram longas e macias, de um tecido quente para os dias frios. Ela era mais fechada e era da cor roxa.
O novo vestido era tão lindo quanto o outro. Assim como o anterior, esse tinha duas partes de cores diferentes. A parte de cima era preta e tinha pequenas voltas no pequeno decote. Tinha uma fita listrada colorida que amarava na cintura e a sua parte de baixo era toda vermelha com bolinhas pretas minúsculas, quase imperceptíveis.
Linfa havia dito que Neandro voltaria naquele dia ou no dia seguinte. Eu estava louca para conhecer-lo, e conheci. Infelizmente não foi do jeito como eu queria.
Estava me trocando para provar o vestido, novamente apenas de peças intimas, quando a porta abriu. O susto foi imediato e recíproco.
– TARADO! – eu gritei impulsivamente enquanto pegava o vestido que estava usando para cobrir-me.
Com o susto acabei pulando para trás, perto de onde Linfa estava sentada e – para minha “sorte” – acabei espetando o bumbum com a agulha que estava na mão de Linfa – que havia deixado a mão estendida no ar com a surpresa.
Quando olhei de novo, Neandro havia tapado os olhos com uma das mãos e estava completamente vermelho, como eu provavelmente devia estar.
– Linfa, quem é essa moça? – ele perguntou visivelmente sem jeito.
– Neandro, desculpe... Essa é a... Beatriz! – Linfa sorriu tão sem jeito quanto ele.
Ela explicou toda a história até o ponto onde ela sabia. Expliquei um pouco mais e contei até onde eu sabia, isso tudo – claro – depois de sermos devidamente apresentados.
– Que história mais... Interessante. – Neandro parecia não saber exatamente o que pensar da história. – Quer dizer que você vem deu outra dimensão?
– Parece que sim! – respondi.
– Nunca conheci um ser de outra dimensão. – ele pareceu envergonhado – Eu imaginava vocês de uma forma... Como posso dizer... Ahn... Diferente.
– Diferente como? – sorri curiosa.
– Diferente tipo... Meio verde, gosmento, careca, de olho grande...
– E inteligência superior? – completei quando vi que era a exata descrição de como imaginávamos os extraterrestres.
– Não! – ele respondeu espantado, para minha surpresa – Como algo verde e gosmento pode ter inteligência superior? Isso é uma idéia estapafúrdia!
Fiquei constrangida e achei melhor não revelar que na Terra essa idéia era bem “aceitável”.
Com toda a confusão que aconteceu no nosso “primeiro encontro”, quase não pude reparar em Neandro.
Era um rapaz muito bonito, de não mais que 23 anos, alto, de cabelos curtos – exceto por uma pequena mecha na parte de trás da cabeça, amarrada com uma fita vermelha. Não tinha o físico atlético, mas não aparentava ser esquelético. Ele parecia estar na medida. Seus olhos eram cativantes, serenos e verdes, como os do irmão – mas eles se pareciam apenas nisso.
As roupas que ele usava lembravam as roupas de um toureador. Eram pretas, com ombreiras e botões douradas. Só faltava a capa vermelha e as castanholas – Olé! Era um pouco estranho, confesso, mas estava me acostumando.
– Você irá para o castelo? – Linfa perguntou um pouco triste.
– Não! – ele não precisou pensar – Mande um soldado avisar que cheguei, como foi pedido. Se quiserem falar comigo, que venham aqui! Irei apenas se for necessário.
Notei na voz de Neandro a mesma hispidez e rancor que havia visto na voz de Alexis na última vez que havia o visto. Estranhei esse desprezo todos que ambos tinham uns pelos outros. Eles haviam brigado serio, era a única explicação.
Neandro contou sobre a viagem a Linfa, que parecia uma criança ouvindo aquelas velhas histórias de avô aventureiro ou veterano de guerra. Ele contava sobre as dificuldades que enfrentaram na ida até Calidora, sobre a tripulação que temeu o pior quando um monstro marítimo atacou a embarcação deles e de como os neideanos o ajudaram a vencer-lo. Contou sobre alguns negócios lucrativos e sobre acordos feitos com os calidorianos.
Era uma conversa muito estranha para mim, todos aqueles nomes... E que história era aquela de “monstro marítimo”? Estava começando a me sentir deslocada e novamente temia pelo meu futuro neste mundo. Mais do que nunca eu precisava voltar para Terra.
Não demorou muito até um dos guardas voltarem do castelo. Linfa mandou o recado assim que Neandro foi se trocar. E trazia com ele uma “visitinha”.
– Alexis! – fiquei surpresa quando abri a porta
– Olá! – ele estava exatamente com as mesmas expressões monstruosas da ultima vez que o tinha visto.
Tentei esquecer a ultima imagem que havia guardado dele e torcer para que ele voltasse a ser o Alexis implicante e egocêntrico de sempre – essa imagem era milhões de vezes melhor do que a imagem de monstro aterrorizante.
– Onde está Neandro? – ele estava serio.
– Está com Ninfa, na cozinha. – disse sorridente, tentando mudar a expressão seria dele.
– Chame-o! – a sua expressão continuava seria. – Quanto antes resolvermos esse assunto... – Ele deixou o restante no ar.
– Alexis... – tentei novamente.
– Chame-o agora!
Engoli a seco aquelas palavras. Por mais simples que fossem, o modo como elas foram ditas doíam demais. Estava confusa, não era a dor da humilhação e descaso, era algo mais forte e mais doloroso que qualquer coisa que já havia sentido. Era uma dor que nunca desejaria para ninguém.
Segui para cozinha, mas acabou não sendo necessário, os gritos de Alexis provavelmente alertaram os dois de que ele já estava esperando-os.
– Você não perdeu seu jeito arrogante! – Neandro parecia tão enojado quanto Alexis.
– És ainda mais ridículo com essas roupas de plebeu! – Alexis retrucou.
– Vejo que já me considera como um plebeu, acho que só estou vestindo-me a caráter!
Os dois continuaram durante um bom tempo trocando insultos antes de alguma coisa realmente importante começar a ser dita.
– Poderia pedir para... Sua... Arg... Poderia pedir para sua... Para sua esposa se retirar por um momento? – Alexis parecia não gostar nada em pedir aquilo. Era como se a Linfa tivesse que se tocar sozinha.
– Não! – Neandro foi curto e grosso – Tudo o que você disser, eu irei contar a ela depois, melhor economizar tempo e palavras.
– Não, não! – Linfa se levantou – Eu saio!
– Você fica! – Neandro a segurou pelo braço.
– Não Neandro, deixe-me ir! – ela parecia muito constrangida.
– Não Linfa! – Neandro a fez sentar – Alexis tem que aprender que ele não é o dono do mundo. Enquanto ele for príncipe, eu como irmão, não tenho o dever de acatar nenhuma de suas ordens. Eu quero que você fique!
Os olhos de Alexis faiscaram de ódio e os de Neandro pareciam soltar raios e trovões. Arrisquei piorar ainda a situação, mas tive que defender a Linfa.
– Vocês irão falar sobre mim, certo? – Alexis consentiu – Eu também quero que ela fique!
Alexis lançou o seu olhar furioso para Neandro e depois para mim, o que me deixou um pouco sem jeito. Em seguida ele desamarrou a cara e ficou com as expressões serias novamente.
– Como já devem ter lhe explicado, Beatriz chegou a nossa mundo através de uma caixa enfeitiçada. – Alexis agora estava apenas concentrado – Meu pai mandou investigarem todo e qualquer vestígio para descobrir quem chamou Beatriz para Ofir e o melhor jeito de mandar-la de volta para seu mundo.
Olhei esperançosa para Alexis. As poucas palavras já eram reconfortantes – principalmente a parte do “melhor jeito de mandar-la de volta para seu mundo”. Isso parecia me deixar mais perto da Terra.
– Infelizmente não conseguimos descobrir quem a trousse para Ofir – Alexis continuou – Mas sabemos que foi uma pessoa com grandes conhecimentos de magia, pois o selo estava muito bem escondido.
– Selo? Tipo... Selo postal? – perguntei.
Alexis olhou feio para mim e bufou, como sempre fazia quando estava perguntando algo que, para ele, era obvio. Neandro se dignou a responder.
– O selo que Alexis está se referindo é um selo de magos. Todo mago tem um selo próprio, algo que diferencie a magia dele com o de outros magos, assim como as digitais. Uma magia sem selo e como um humano sem digitais.
– Então como essa magia foi feita? – perguntei assustada.
– Alguns magos aprenderam a “camuflar” seu selo, para que ninguém o reconheça. Mas apenas magos de nível 8 conseguem fazer esse tipo de magia.
– E vocês conhecem magos do nível 8? – perguntei.
– Os magos são sempre pessoas da família real, mais ninguém. – Neandro continuou – Então não seria difícil encontrar magos que poderiam ter te trazido para Ofir, se não fosse pelo fato de apenas uma pessoa ter chegado ao nível 8.
– Quem? – estava curiosa.
– Alina, a rainha de Ofir! – Alexis respondeu desta vez. Suas expressões eram tristes.
– Rainha de Ofir? – raciocinei – Então é a mãe de vocês? Como?
– Exato! – Alexis continuou explicando – Como? Essa é a pergunta. O selo era da minha mãe, mas como seria possível?
– Não podemos perguntar a ela? – sugeri inocentemente, mas não fui muito bem interpretada.
– Minha mãe morreu! – Alexis quase berrou – Ela... Morreu!
Só então me lembrei de não ter visto a rainha quando estive no castelo. Que mancada imperdoável a minha!
– De... De... Desculpe! – estava sem jeito.
– Já faz um mês, foi morta durante a 1ª batalha. – Neandro também estava triste.
– E se não fosse por causa da sua... Esposa, ela não teria sido morta por Bianor! – Alexis quase cuspiu na cara de Linfa.
Linfa se levantou chorando e saiu da sala. Ela estava arrasada. Também não era para menos, depois de ouvir o que ela ouviu. Tentei imaginar o que deveria ter acontecido de verdade durante essa 1ª batalha. Neandro suspirou e fitou o nada. Parecia não querer tomar partido sobre esse assunto.
Um longo minuto de silêncio tomou conta da sala. Um longo e terrível minuto de silêncio. Fui obrigada a quebrar o silêncio, e isso era horrível – pelo menos naquele momento.
– E minha volta para o meu mundo dependia dela? – fiquei com medo da resposta.
– Sim! – Alexis começava a se recuperar – Sem o mago que fez a magia, não podemos desfazer.
– Mas vocês não tem algum feitiço que possa me mandar de volta? - perguntei perdendo as esperanças.
– Temos e podem ser executado por magos do nível 5. Se esse fosse o caso...
– Como assim “se esse fosse o caso”? existe algo que impeça que esse feitiço seja executado? – interrompi Alexis, que não gostou muito.
– Se esse fosse o caso... – Ele recomeçou – Poderíamos pedir para o rei de Neide, que tem experiência em transportar pessoas, seu nível é 5. Poderíamos também pedir para os reis de Leander, os dois tem nível 7, mas eles seriam difíceis de convencer.
– Então qual é o real problema? – comecei a me estressar.
– Teríamos que quebrar o feitiço que está em você! – Alexis me fitou serio.
– Como? – não entendi. – Independente de quem tenha feito o feitiço, esse alguém sabia que você não tinha nenhum conhecimento em magia e junto com o feitiço que te trousse para Ofir, essa pessoa também colocou uma mágica um tanto... Peculiar.
– Como assim? – continuava confusa.
– Essa pessoa lhe deu parte de sua magia. Toda a pessoa contem magia em seu corpo e os que estudam magia fazem o máximo para evoluir, subir de nível. – Alexis começava a enrolar demais para o meu gosto.
– E o que isso tem haver com esse feitiço? – estava ansiosa.
– Essa pessoa sabia muito bem que eu ou alguém da família real te encontraria. Sabia que você não seria condenada a morte e sabia que conseguiria um colar mágico. – ele continuava enrolando – Por isso houve aquela reação com o seu colar. Você já está com boa parte de sua magia evoluída, provavelmente deve estar no nível 3...
– Aha! – ouvi Neandro exclamando – O mesmo nível que você maninho. – Ele sorriu – Acredita que ele demorou 10 anos para chegar ao nível 3, o último nível do básico!
– E você ficou parado no nível 4, sendo que já poderia estar no nível 6! – Alexis não parecia maios tão enojado, mas ainda matinha a expressão seria no rosto.
– Você sabe que não me foi permitido continuar a aprender sobre magia! – Neandro fazendo-me questionar o motivo.
– Tudo bem, vocês discutem isso depois! – interrompi a briga de família – Será que agora alguém pode me responder o que realmente aconteceu comigo.
– O importante é... – Alexis parecia finalmente ir direto ao assunto – A pessoa que te trousse para Ofir sabia muito bem o que estava fazendo, e com esse segundo feitiço foi quase como se pedisse para alguém lhe ensinar magia.
Alexis olhou para Neandro que olhou para mim e depois novamente para Alexis.
– O que? – Neandro gritou – Você está querendo que eu ensine a Beatriz magia?
– Eu não poderei ficar o tempo todo neste cortiço. – Alexis se levantou – Alguém terá que ensinar magia a ela. E duro dizer isso, mas acredito que ela seja...
– O que? – Neandro interrompeu – Você também ficou desconfiado. – Alexis afirmou – Então ela pode mesmo ser a Mallory?
– Eu posso ser o que? – me assustei.
– Melhor não saber de nada agora. – Alexis caminhou até a porta – Irei conversar com meu pai sobre isso e sobre o Cristal de Dâmaris. Enquanto isso ensine o máximo que puder de magia, volto daqui a uma semana.
– Espere! – o segurei pelo braço. Preferi não olhar para seu rosto – O que é esse “Cristal de Dâmaris”?
Como de costume, ele bufou, fechou os olhou e balançou a cabeça negativamente.
– Explique a ela! – Alexis abriu a porta – Voltarei daqui a uma semana.
Assim que vi Alexis montando em seu cavalo e saindo rumo à estrada que levava a cidade, fechei a porta e fiquei fitando Neandro, esperando que apenas com minhas expressões ela já soubesse o que eu queria. UMA RESPOSTA. Funcionou.
– O cristal? – ele perguntou.
– Sim! – sentei ao lado dele. – O Cristal de Dâmaris e um dos artefatos mágicos mais antigos de Ofir.
– Artefato mágico? – perguntei a mim mesma, achando a palavra “curiosa”.
– É uma história um pouco longa. Quer mesmo ouvir?
Não disse nada, apenas o fitei com os olhos semicerrados e com expressões que já não necessitavam de maiores explicações. – Essa história aconteceu na época do 1º rei de Ofir, Basileu. Antes as pessoas de Ofir só acreditavam que existisse Calidora e Menelau de reinos. Acreditavam que o mundo de Ofir começava e acabava ali, até Basileu tomou a decisão de que iria descobrir se realmente não existia mais nada além daquele oceano. Ele ficou anos e anos tentando construir algo que o transportasse com segurança pelos oceanos. Assim surgiu o 1º barco de Ofir.
– Que incrível! – comecei a me interessar mais pela história.
– Basileu navegou até a ilha de Ofir, que era apenas uma floresta. Ao chegar ele se deparou com uma pequena tribo que vivia pela ilha. Não eram muitos, pouco mais de 50 pessoas. Ele conseguiu se comunicar com os nativos e acabou aprendendo sobre magia.
Neandro parecia estar pedindo para que eu pedisse para falar. Parecia estar cansado de contar aquela história. Mas eu provavelmente estava com um rosto pidão e ele continuou.
– Depois de ganhar a confiança dos nativos, Basileu ganhou a permissão de conhecer Dâmaris, a rainha deles. Foi amor a primeira vista. Basileu ficou tão encantado com Dâmaris, que passou anos e anos na ilha. Ele sempre tentava conquistar Dâmaris, mas não conseguia. Até o dia em que ele se cansou e sequestrou Dâmaris durante a noite, levando-a até Calidora.
– E o que aconteceu?
– Quando Basileu voltou, encontrou muita coisa diferente. O seu lugar no trono havia sido ocupado por seu 1º ministro e sua mulher estava casada e com filhos. Irritado, Basileu contou varias mentiras ao povo. Disse que havia encontrado terras novas, mas que estavam invadidas por monstros e que ele havia sido morto e Dâmaris o havia ressuscitado. Basileu obrigou Dâmaris a mostrar seu poder e convenceu o povo a retirar o seu 1º ministro do trono.
– O que mais aconteceu? – a curiosidade era imensa.
– Basileu voltou ao trono e casou-se com Dâmaris. Tiveram dois filhos, Basiliana e Basílio. Após o nascimento dos filhos, Basileu começou a recrutar soldados para invadir a ilha que havia encontrado. Durante os meses que esteve no trono, mandou construir vários navios e barcos e deixou Dâmaris como sozinha, tomando conta do reino.
– E ele foi invadir a ilha?
– Sim, é a batizou de Ofir. Houve uma grande matança e a sede de poder tomou conta de Basileu que começou a procurar mais e mais reinos. Assim foram descobertos os reinos de Sotero, Leander, Neide e o Deserto Orestes, que tiveram o mesmo fim da ilha de Ofir. Isso durou anos.
– E ele voltou?
– Um dia ele teria que voltar! Mas ele acreditava que Dâmaris era honesta demais para trair-lo como fizeram a sua antiga esposa e o seu 1º ministro.
– E quando ele voltou viu a mesma cena da outra vez? – presumi erroneamente.
– Não a mesma cena. Ele havia esquecido um detalhe: Dâmaris era uma maga. Ela conseguiu o amor e carinho do povo dando a eles tudo o que queriam, assim como fazia em sua antiga ilha e ensinou magia aos seus filhos. Ela tomou o poder e arquitetou um plano para assassinar Basileu, caso ele voltasse.
– E ela o matou?
– Ela induziu o povo a se voltar contra Basileu, assim que ele voltou. Ela conseguiu convencer o povo a querer a cabeça dele e como todos só obedeciam a ordens de Dâmaris, Basileu foi executado dias depois de seu retorno.
– E o que aconteceu com Dâmaris? – Ela mandou os filhos para Neide e Leander, para que governassem os reinos que herdaram do pai. Mandou para Sotero seu primeiro ministro e deixou em Menelau e Calidora pessoas que ela acreditava ser boas de coração e que trariam um reinado de paz e prosperidade.
– E o cristal? – lembrei do motivo dessa longa história.
– Ele entra agora. Dâmaris voltou para sua ilha e governou durante anos e anos da melhor forma que pode, mas não poderia dar o melhor de si, seu coração estava amargurado, cheio de arrependimento pela morte de Basileu. Dâmaris não suportou viver daquela forma e se suicidou, transformando-se em seu cristal mágico. Esse cristal foi deixado ao povo de Ofir como presente. Sempre que precisassem, era só fazer um pedido que o cristal realizaria.
– Então esse cristal pode me ajudar a ir para casa? – perguntei empolgada.
– Sim, esse cristal pode, mas você terá que achar-lo primeiro.
– E onde ele está? – fiquei preocupada.
– Como disse, o cristal realizava qualquer desejo e as pessoas com o tempo se tornaram sujas e ambiciosas. – não estava gostando disso – Para evitar que o pior acontecesse, o cristal foi dividido em 6 partes e espalhados por Ofir, para que ninguém mais o encontrasse.
– Então... – achei que minhas chances estavam perdidas.
– Mas meus pais estavam estudando e pesquisando sobre onde os cristais poderiam estar e, acredito eu, que Alexis vai aproveitar o seu problema para pedir autorização para começar a procurar pelos cristais.
– E você acredita que ele permitirá? – perguntei.
– Honestamente, acredito que sim! Até por que tem a história da Mallory...
– Lá vem vocês de novo com essa história de Mallory! Afinal, o que é isso? – fiquei nervosa.
– Ainda não é o momento. – ele sabia como decepcionar – Ainda temos que ter certeza!
Nossa conversa foi interrompida bruscamente por um som de porcelana se quebrando. Só então lembramos... LINFA!